sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Quanto Portugal pagou pelo Nordeste aos holandeses

Reparações? Veja quanto Portugal pagou para retomar o Nordeste, mesmo os brasileiros tendo vencido os holandeses.O negócio do Brasil”

Como Portugal comprou o Nordeste dos holandeses R$ 3 bilhões

Em livro relançado, historiador brasileiro diz que lusitanos pagaram o equivalente a 63 toneladas de ouro para ter região de volta mesmo depois de derrotar holandeses no século 17.


O Negocio do Brasil



clip_image002

Quadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.

O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro "O negócio do Brasil", que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.

Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.

"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.

'Pechincha'

clip_image004

Bandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil (Foto: BBC/Wikipedia)

Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.

Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.

Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.

clip_image005

Gravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630 (Foto: BBC)

"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.

Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.

Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.

'Sem heroísmo'

clip_image007

Quadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635) (Foto: BBC)

Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.

Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".

"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.

"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".

"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".

Luís Guilherme Barrucho Da BBC Brasil em Londres 12/10/2015

domingo, 17 de setembro de 2017

Os dois Brasis


A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

Os dois Brasis

Escritor Luiz Ruffato causou grande estardalhaço ao focar no que o Brasil tem de pior em sua apresentação na Feira do Livro de Frankfurt de 2013, evento que se propunha a promover o país.


Os dois BrasisO mineiro Luiz Ruffato não poupou críticas ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt (Reprodução/DWL.Frey)

Na semana passada encerrou-se a Feira de Livros de Frankfurt, maior evento mundial do mercado editorial e ponto de encontro para negócios relacionados às editoras de todos os continentes.

Como o Brasil foi o país homenageado em 2013, o que tinha ocorrido antes somente em 1994, tivemos o direito de discursar no evento inaugural, cabendo a tarefa, entre os 70 escritores brasileiros convidados, ao mineiro Luiz Ruffato. Estando presentes autoridades alemães e brasileiras, aí incluídos o vice-presidente da república e a ministra da cultura, houve um grande estardalhaço com o teor da apresentação.

Normalmente, seria de se esperar que um brasileiro em evento que se propõe a promover o Brasil, falasse bem do país, pois poucos no exterior acreditam que, em termos de cultura, haja qualquer coisa no Brasil além de samba e futebol, para não descermos ao nível mais baixo dos atributos físicos das mulatas.

Ruffato inicia definindo o Brasil como um país dominado monetariamente pelo capitalismo selvagem, em todos os seus significados. Também expõe dados sociais e os compara com indicadores globais, conforme a seguir:

1.    A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.

2.    O índice de assassinatos no país: Ruffato destaca a alta taxa de homicídios no Brasil, que chega a de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a aproximadamente 37 mil pessoas mortas por ano, considerando a população brasileira – número três vezes maior do que a média mundial. A explicação poderia ter raízes históricas, e o escritor invoca a constituição do povo brasileiro, marcada pelo extermínio dos povos indígenas: eram 4 milhões de indígenas na época do descobrimento do Brasil, e hoje restam cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades.

3.    Violência contra mulheres e crianças: o autor ressalta que o Brasil ocupa o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas, ao passo que em 2012 foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Ruffato lembra ainda que estes números são sempre subestimados, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, por diversas questões, muitas vezes familiares.

4.    O problema do analfabetismo: ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo, já que 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.

5.    Mercado editorial brasileiro: este mercado movimenta anualmente em torno de U$S 2,2 bilhões, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas às bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.

Todavia, o escritor não deixa de relatar pontos positivos: a maior vitória de sua geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos,  trata-se do período mais extenso de vigência do Estado Democrático de Direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. A implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou até mesmo os de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, também seriam pontos positivos a serem destacados.

Por fim, sem esquecer dos problemas estruturais diários, o escritor lembra que continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis.

O sociólogo francês Jacques Lambert publicou na década de 50 o clássico ensaio Os dois Brasis, onde denunciava a dicotomia da pobreza convivendo com alguma modernidade e avanço. Em outro momento, o economista Edmar Bacha cunhou a expressão Belíndia, para denominar o Brasil como um misto de Bélgica desenvolvida com a outrora Índia muito pobre, antes de entrar para os BRICs. Deveria Luiz Ruffato ter mostrado também um Brasil melhor?

Paulo Gurgel Valente

Fonte Opinião e Política

18 out, 2013

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Quinzena do Negro na USP 1977

Ato Celebração (9) (1024x768)

Nós que fundamos o Movimento Negro Unificado (inicialmente Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial) em 1978, na época tínhamos contatos com os movimentos de libertação que ocorriam na África, e com os movimentos negros da Diáspora. Tínhamos, mas no dia sete de julho comemoramos nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo 39 anos de MNU. Surgido em 1978 quando ocorreria as festividades dos 90 anos da Abolição da Escravatura, nós então jovens protestávamos pela morte de um jovem dentro de uma delegacia, e prela proibição de atletas negros frequentarem as áreas sociais de um clube.

Estarmos na Universidade Eduardo

Plena Ditadura, saímos as ruas para protestar, marco simbólico da retomada de protestos populares, e dos movimentos negros unidos em uma Frente, que se espalhou Brasil afora. Tenho orgulho de ter participado, mas não estou feliz. Em 1978 apontávamos uma morte do Robson, logo depois seguida do Nilton por policiais militares. No primeiro número do Cadernos Negros, havia uma poesia profética: “mataram um negro depois outro...” Os jornais mostram as estatísticas do primeiro semestre de 2017, a Polícia Militar em São Paulo matou 459 pessoas. Vivemos numa guerra, do Estado contra a população pobre, preta e periférica.

Parece que não temos memória, cada negro inicia uma nova luta por sua sobrevivência. Ontem foi uma celebração, o coletivo angolano Muximas na Diáspora, e os movimentos negros, e defensores dos direitos civis, tivemos oportunidade de confraternizar com um dos presos políticos angolanos. Pedimos que dessem visibilidade internacional, ao pedido de Liberdade para Rafael Braga, e até hoje perguntamos: “Cadê o Amarildo? ”

Quinzena do Negro

Orgulhoso, mas não feliz, lembrei da pioneira Quinzena do Negro na USP, ocorrida em 22 de maio até 8 de junho de 1977. Organizador Eduardo de Oliveira e Oliveira, Socióloga Beatriz do Nascimento, professor Clóvis Moura, professora Joana Elbein dos Santos. Foi um sucesso e marcou o questionamento do sentido da abolição e as influências nos descendentes dessa integração incompleta. Tínhamos mais contatos, em 1982 ocorreu o 3º. Congresso de Cultura Negra das Américas (IPEAFRO Abdias do Nascimento).

Eduardo

Esse marco histórico na USP que completou 40 anos a Quinzena do Negro na USP, alguém lembrou, comemorou? Alguma homenagem para esses ícones de nossa história, Eduardo de Oliveira Oliveira, Beatriz Nascimento e Clóvis Moura?

Negando sua origem Beatriz

Durante duas semanas especialistas nos diversos campos das ciências sociais discutiram, na Universidade de São Paulo em 1977, os destinos dos descendentes dos africanos trazidos ao Brasil Colônia como escravos. Foi a Quinzena do Negro, iniciada no dia 22 de maio, e que se estendeu até o dia 8 de junho, sob o patrocínio do Departamento de Artes e Ciência s Humanas da Secretaria de Cultura, Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo.

Não pretende ser Eduardo

O organizador, o sociólogo negro Eduardo de Oliveira e Oliveira, dizia sobre a proposta: “ A Quinzena seria um prenúncio daquilo que eu e um grupo de estudiosos estamos pensando: um trabalho mais amplo, de natureza nacional, possivelmente com autoridades internacionais, para o ano que vem, quando se comemora o 90º. Aniversário da Abolição da Escravatura. No encontro a pergunta básica será: que destino devem tomar os descendentes de escravos? ”

Reconhecimento Beatriz

Quando completam-se 40 anos de uma conquista histórica, e com a aprovação da Cotas na USP, uma pergunta simples: Não vale uma comemoração?

Fotos Hugo Zambukaki

Fotogramas do vídeo Ori

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Luaty Beirão Centro de Estudos Africanos USP

Luaty Cel (16) (1024x576)

Ontem dia 3/8 no auditório da Centro de Estudos Africanos (CEA) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP, tivemos uma grande alegria, encontrar Luaty Beirão, rapper e escritor angolano. Um dos jovens ativistas presos em 2015 os chamados 15+2, por estarem lendo um livro foram acusados de estarem promovendo um golpe de estado contra o governo do presidente angolano José Eduardo do MPLA, eleito interruptamente há quase quarenta anos.


Luaty CEA (22) (1024x768)

Luaty tornou-se o símbolo da campanha internacional #LiberdadeJá, por sua exposição como rapper e dupla cidadania, filho de um dos principais quadros do MPLA. E principalmente por seu extremo amor por Angola e fortes convicções. Entrou em greve de fome, o regime ditatorial de Angola transformou-o em um mártir. Ele cobrava simplesmente seus direitos de cidadão.

Luaty na cama

Sua imagem deitado na cama, aparência de moribundo, correu o mundo misto de cristo e che. Manifestações ocorreram, na Inglaterra, Alemanha, França, Portugal, pedindo a liberdade dos presos políticos angolanos.

Luaty (1024x576)

Tantas que, até no Brasil... Da Bahia veio o grito do professor Ney D´Dan, em Brasilia a professoras Neide Samico foi organizado um movimento de indignação nacional Estimulado pela ação de um grupo angolano de São Paulo Muximas na Diápora, os movimentos negros e da sociedade civil se manifestaram: #LiberdadeJá.

Luaty CEA (18) (1024x727)Luaty CEA (62) (1024x780)

Muito nos guiou o poema de Solano Trindade, e um artigo da professora Susan de Oliveira sobre os Revús. Logo um documentário das cineastas Eliza Capai e Natália Viana nos reafirmava nossos rumos.Luaty Cel (64) (1024x576)

Muito se falou de Luaty, gostaria de falar o isolamento do Brasil perante o mundo, sendo mais específico dos movimentos negros no Brasil. Nós que fundamos o Movimento Negro Unificado (inicialmente Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial) em 1978, na época tínhamos contatos com os movimentos de libertação que ocorriam na África, e com os movimentos negros da Diáspora. Tínhamos, mas no dia sete de julho comemoramos nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo 39 anos de MNU. Surgido em 1978 quando ocorreria as festividades dos 90 anos da Abolição da Escravatura, nós então jovens protestávamos pela morte de um jovem dentro de uma delegacia, e prela proibição de atletas negros frequentarem as áreas sociais de um clube.

Quinzena do Negro

Plena Ditadura, saímos as ruas para protestar, marco simbólico da retomada de protestos populares, e dos movimentos negros unidos em uma Frente, que se espalhou Brasil afora. Tenho orgulho de ter participado, mas não estou feliz. Em 1978 apontávamos uma morte do Robson, logo depois seguida do Nilton por policiais militares. No primeiro número do Cadernos Negros, havia uma poesia profética: “mataram um negro depois outro...” Os jornais mostram as estatísticas do primeiro semestre de 2017, a Polícia Militar em São Paulo matou 459 pessoas. Vivemos numa guerra, do Estado contra a população pobre, preta e periférica.


Edaurado 1Parece que não temos memória, cada negro inicia uma nova luta por sua sobrevivência. Ontem foi uma celebração, o coletivo angolano Muximas na Diáspora, e os movimentos negros, e defensores dos direitos civis, tivemos oportunidade de confraternizar com um dos presos políticos angolanos. Pedimos que dessem visibilidade internacional, ao pedido de Liberdade para Rafael Braga, e até hoje perguntamos: “Cadê o Amarildo? ”

Eduardo

Pensávamos que não seria possível esse encontro, Luaty Beirão veio para a FLIP ocorrida em Paraty, foi no Rio na Favela do Vidigal. São Paulo esquecida, sem contatos internacionais, isolados no mundo. Para satisfação o Centro de Estudos Africanos da USP (CEA) através dos esforços da sua Diretora professora Tania Macedo, nos deu essa alegria de celebrar.

Hamilton

Orgulhoso, mas não feliz, lembrei da pioneira Quinzena do Negro na USP, ocorrida em 22 de maio até 8 de junho de 1977. Organizador Eduardo de Oliveira e Oliveira, Socióloga Beatriz do Nascimento, professor Clóvis Moura, professora Joana Elbein dos Santos. Foi um sucesso e marcou o questionamento do sentido da abolição e as influências nos descendentes dessa integração incompleta. Tínhamos mais contatos, em 1982 ocorreu o 3º. Congresso de Cultura Negra das Américas (IPEAFRO Abdias do Nascimento).


Congresso Abdias


Esse marco histórico na USP que completou 40 anos a Quinzena do Negro na USP, alguém lembrou, comemorou? Alguma homenagem para esses ícones de nossa história, Eduardo de Oliveira Oliveira, Beatriz Nascimento e Clóvis Moura?

Esse contato com Luaty Beirão promovido pelo Centro de Estudos Africanos e sua diretora Tania Macedo, nos traga o brilho de nossa história e os laços ocorridos transformem-se em pontes.


E se perguntarem temos orgulho, o Coletivo Catorze de Maio se faz presente.


Fontes citadas:

O rap e o ativismo pelos direitos humanos em Angola, por Susan de Oliveira

http://www.pordentrodaafrica.com/noticias/o-rap-e-o-ativismo-pelos-direitos-humanos-em-angola-por-susan-de-oliveira

“É Proibido falar em Angola” Agência Pública, vídeo de Eliza Capai e Natalia Viana.

https://www.voaportugues.com/a/documentario-e-proibido-falar-em-angola-bloco-1/3067095.html

Fotogramas do filme Ori no documentário Ôrí, lançado em 1989, pela cineasta e socióloga Raquel Gerbe 1989

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Post Origem do MNU depoimento de militantes

A ORIGEM DO MNU - MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO

Quando os comentários são mais esclarecedores que o post:

“Éramos eu, ..., ..., os .... e muito mais gente”

Reunião no Cecan

Uma postagem no Facebook  baseado no Acervo Agência Globo, provocou a resposta de dois militantes fundadores do Movimento Negro Unificado, por sua importância publicamos as respostas ao post.

Por várias razões e respeito à opinião alheia, omitimos, o autor do depoimento e a autoria do artigo.

Masp Cotas (57)

Milton Barbosa: Em 18 de junho de 1978 representantes de vários grupos se reuniram, em resposta a discriminação racial sofrida por quatro garotos do time infantil de voleibol do Clube de Regatas Tietê e a prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, trabalhador, pai de família, acusado de roubar frutas numa feira, sendo torturado no 44 Distrito Policial de Guaianases, vindo a falecer em consequência às torturas.

Representantes de atletas e artistas negros, entidades do movimento negro: Centro de Cultura e Arte Negra – CECAN, Grupo Afro-Latino América, Associação Cultural Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas – IBEA e Câmara de Comércio Afro-Brasileiro, representada pelo filho do Deputado Adalberto Camargo, decidiram pela criação de um Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial.

O lançamento público aconteceu numa manifestação no dia 7 de julho, do mesmo ano, nas escadarias do Teatro Municipal da Cidade de São Paulo, reunindo duas mil pessoas, segundo o jornal "Folha de São Paulo", em plena na Ditadura Militar.

Com a criação do Movimento e seu lançamento público, mudamos a forma de enfrentar o racismo e a discriminação racial no país.

Já no dia 7 de julho, participaram entidades do estado do Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa das Culturas Negras – IPCN, Centro de Estudos Brasil África – CEBA, Escola de Samba Quilombos, Renascença Clube, Núcleo Negro Socialista, Olorum Baba Min, Sociedade de Intercâmbio Brasil África – SINBA.

Cinco entidades da Bahia nos enviaram moções de apoio à manifestação.

Prisioneiros da Casa de Detenção do Carandiru, enviaram um documento se integrando ao movimento, denunciando as condições desumanas em que viviam os presos e o racismo do sistema judiciário e do sistema prisional – Centro de Luta Netos de Zumbi.

Participaram do Ato, também, Lélia Gonzales e o professor Abdias do Nascimento.

Masp Cotas (39)

Hugo Ferreira Zambukaki:  Parabéns Milton Barbosa, ótimo depoimento de quem viveu e construiu esse momento em 1978. Muito se fala sobre esse momento histórico, alguns dizendo "eu e os outros", ver uma narrativa concisa como a sua salientando o coletivo acima da individualidade, dá orgulho.

Sou testemunha de seu comportamento exemplar, em pleno "Ato Por que a USP Não Tem Cotas?", no Vão Livre do MASP, no dia 3 de julho de 2017, na hora dos coletivos falarem chamaram o Movimento Negro Unificado Brasil- MNU, presentes o José Adão Oliveira e você. Os dois querendo que o outro tomasse a palavra, o indicado por vocês foi o Adão, exemplos como esses de humildade e reconhecimento dos companheiros, é raro. Logo depois do Adão falar, exigiram sua presença por esse seu comportamento de décadas. O coletivo antes do indivíduo.

Masp Cotas (50)

No seu depoimento você não narra, por essa ideia da coletividade antes dos indivíduos. O MNUCDR (MNU) foi uma frente de várias entidades e coletivos, mas nasceu de intensas, imensas discussões numa entidade o CECAN no Bixiga. Falo e sei que terei depoimentos de inúmeras companheiras e companheiros, que lá estiveram e viveram essas reuniões.

Mesmo antes do CECAN, eu ouvia essa proposta de dois companheiros, o que seria esse movimento. Ontem conversando com o Adão, ele definia todo esse processo como um enorme elefante apalpado por cegos, cada um vê e relata como segura a orelha, a perna...

Milton Barbosa, e Rafael Pinto na minha visão de cego segurando elefante, foram os iniciadores desse processo. Na época discutia-se cultura, atos políticos não. Ouvi dos dois companheiros, essas ideias muito antes inclusive da segunda fase CECAN, tenho na memória, com carinho as reuniões na casa da sua mãe (creio que em 1975), onde eu ouvia de vocês, e sonhávamos na construção de uma ação política.

Masp Cotas (45)

Falo isso como mero coadjuvante, junto de inúmeros companheiros companheiras que se juntaram aos esforços de vocês. Meus respeitos pelo pioneirismo, trabalho e construção.

Outros tantos nomes se uniram, somando experiências, significativa e fundamental importância. Mas honra e orgulho, ao Milton e Rafael, iniciadores intelectuais, estimuladores e construtores do processo de reorganização do movimento negro em plena Ditadura.